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Diário do Nuno

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2007-11-30
17:50
No fim-de-semana passado fui a Berlim visitar o meu amigo Luís. Nunca lá tinha ido. É uma cidade muito interessante que, tal como Riga, acumula vários passados diferentes que se entremeiam mas quase não se conhecem entre si.

O passado mais passado, o anterior à II Guerra Mundial, é composto pelos prédios que sobreviveram aos bombardeamentos e pelos monumentais museus colonialistas. Visitei o Museu Pergamon que aloja, entre outras coisas, um templo grego, uma fachada da cidade de Miletus e um dos portões da Babilónia. Um museu gigante, portanto. E como ainda assim não conseguiram que nele coubesse tudo o que roubaram aos turcos, egípcios e outros povos, o museu está a ser ampliado. O portão da Babilónia impressionou-me muito. Vi também noutro museu o busto da Nefertiti, essa grande braza, que me deixou estupefacto pela sua perfeição, beleza e estado de conservação.

O segundo passado, aquele que ainda anda tudo a tentar que deixe de estar presente é composto pelo muro e tudo o que lhe diz respeito, incluíndo os penteados foleiros das alemãs de Berlim oriental, e espantou-me. Embora tivesse consciência da dualidade de Berlim, não imaginava que ainda hoje as diferenças fossem tão marcantes. Vivem-se dois ambientes tão distintos que Berlim devia chamar-se Berlins. A memória desse passado recente em que um muro impedia um lado de chegar ao outro está ainda tão viva que é impossível não estar sempre consciente disso. O muro caiu, mas a cicatriz está à mostra. Se aquilo me fez confusão, imagino aos berlinenses.

Finalmente o terceiro passado vai desde que espatifaram o muro até hoje. Por um lado é feito de memoriais atrás de memoriais, rodeados por pedidos de desculpa e mais pedidos de desculpa e por outro lado compreende um conjunto de sub-culturas (cada uma com a sua banda-sonora) dentro das quais a juventude berlinense se tem vindo a arrumar. Berlim fervilha com cultura. Nos 3 dias que lá estive fui a 4 museus e a 4 concertos mas queria ter ido a muito mais, oferta não faltou. No entanto, segundo se diz, nem tudo são girassóis, e as tão elogiadas sub-culturas são chão que já deu uva. Os jovens, até há pouco tempo genuinamente alternativos, de tanto apurarem as caixinhas esteticamente herméticas de dentro das quais anunciam ao mundo as suas crenças, contentaram-se e, sem repararem, passaram apenas a pertencer à carneirada dos que não querem pertencer à carneirada. Em Berlim se não és punk és dread, se não és dread és gótico, se não és gótico és intelectual e se não és intelectual não és ninguém.

O presente de Berlim desatou a correr para o futuro. Principalmente em cima do muro, ou antes, no espaço que foi deixado livre por este e que estão agora a tentar atafulhar com sofisticados prédios de escritórios. Prédios daqueles eco-ilógicos que em todos os gabinetes têm 3 caixotes diferentes para reciclar o lixo mas que à noite deixam as luzes ligadas sem ninguém lá dentro durante horas a fio só porque a fachada fica mais bonita a reluzir.

Em resumo, adorei e quero lá voltar.

E agora, umas fotos.

Em Berlim até os objectos pertencem a uma seita. Há de tudo: punk, gótico, intelectual, geek, dread, etc. Aqui está uma câmara de vigilância punk:

Punk's Not Dead

Um paisagem subterrânea de Berlim:

Lemonchtenberg

Já estou farto destas fotos de prédios tortos. Não sei porque é que insisto. Pára Nuno! Esta é a torre da televisão e pertencia a Berlim Oriental. Hoje é dos dois e dá imenso jeito para as pessoas não se perderem porque fica mesmo no centro e com os seus 368m de altura vê-se de todo o lado:

Berlin TV Tower

Cerveja morta:

Beer skeleton