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Diário do Nuno

Arquivo:  
2008-01-22
05:46
A vida dos hindus e' pautada por centenas de rituais diferentes. No outro dia estava a assistir ao ritual de adoracao do Ganges que acontece diariamente 'as 17h30 ali em Ram Jhula. Enquanto os hindus levavam a cabo os preceitos deles, nos os ocidentais fotografavamos. E ai percebi que esta nossa necessidade de registar tudo e' na verdade um ritual. Nao se trata apenas de um habito ou de um vicio. Fotografa-se por razoes metafisicas. Os rituais tradicionais acontecem no plano do Kairos (por oposicao ao Chronos) e tem como principal funcao recriar o que sempre foi para que continue a ser. Ora nao e' essa, de certa forma, a funcao de fotografar? Da mesma forma que um hindu sente desconforto se nao executar correctamente os seus rituais, nao sentimos nos tambem uma especie de vazio, uma sensacao de que falta algo, quando chegamos a um sitio especial e nao temos uma maquina fotografica para registar o momento? Fotografar e' um ritual do plano do Chronos.

Para quem nao sabe o que sao e nao tem paciencia para ler na wikipedia, Chronos e' o tempo cronologico, dito quantitativo, aquele por que nos regemos hoje em dia e que podemos ler nos relogios e nos calendarios. Kairos, pelo contrario, e' o tempo qualitativo, aquele por que se pautam as sociedades tradicionais e que dita quando e' "tempo de plantar", "tempo de ceifar", "tempo de celebrar", etc. Enquanto o Chronos e' linear, o Kairos e' de natureza circular e os rituais tradicionais servem exactamente para assegurar a continuidade dessa circularidade.